Ao sair de Puerto Madryn, navegamos uma noite, um dia e mais uma noite para finalmente aportar nas Ilhas Malvinas / Falkland. Esse era o ápice da viagem para mim, o ponto que mais despertava a minha curiosidade. Na véspera, como o tempo não estava muito bom, correu um boato pelo navio de que talvez não fosse possível desembarcar em Port Stanley, já que o navio não entra na baía, e não seria seguro para os tenders em caso de mar revolto. Nunca exercitei tanto o meu pensamento positivo… 😉
O meu fascínio pelo arquipélago tem uma explicação bem prosaica… Eu sempre gostei muito de História, e tinha apenas 15 anos quando eclodiu a Guerra das Malvinas, em 1982. Era a primeira vez na vida em que eu acompanhava um conflito político de grandes proporções – e, claro, tomei o partido da Argentina apaixonadamente, como convém aos adolescentes… 😉
A história das ilhas é cercada de controvérsias desde o seu descobrimento. Desde a época da guerra, a minha tendência natural era a de julgar que as Malvinas deveriam ser reincorporadas à Argentina, uma vez que foram tomadas pelos britânicos na primeira metade do século XIX, em plena expansão imperialista. Por esse aspecto, a minha postura política é a de concordar plenamente com esse adesivo que vi colado em uma loja em Ushuaia:
Mas depois de visitar as ilhas, já não sei mais… Continuo não sendo a favor de mantê-las como território britânico, continuo pensando que geograficamente pertencem à Argentina – mas já não sei se sou a favor de que sejam reincorporadas… O que me fez repensar o meu ponto de vista foi saber que as ilhas eram praticamente desabitadas ao serem tomadas pelos britânicos, e que a população de falklanders (ou kelpers, como também são chamados) está estabelecida nas ilhas há 9 gerações, mantendo a língua, a cultura e os hábitos herdados dos seus antepassados britânicos, sem qualquer contato com a cultura argentina. Não houve nas ilhas uma mistura das culturas britânica e argentina, que criasse uma cultura híbrida, com um pé na Grã-Bretanha e outro na Argentina. Muito pelo contrá¡rio – para os habitantes das ilhas, os argentinos são os invasores que irromperam pelo arquipélago em 1982 e acabaram com a paz reinante. E, vendo as coisas pelo ponto de vista do cidadão comum, me parece bem difícil discordar… 😉
Deixando a política de lado, vamos dar um passeio por Port Stanley… Deixamos o navio em tenders, para um trajeto de cerca de 15 minutos até o pier.
O clima nas Malvinas / Falkland é famoso pela sua imprevisibilidade… A foto aí embaixo não é uma montagem, nem brincadeirinha no Photoshop!
Depois de muito sacudir no tender (o mar é super mexido!), finalmente chegamos:
Por mais que as histórias de colonização e dominação tenham o seu lado triste, eu nunca deixo de me impressionar como certos povos conseguiram esticar seus tentáculos até pontos tão recônditos do mundo… A Inglaterra está mesmo presente em cada detalhe – na arquitetura, na forma de organizar a cidade, no trânsito, na comida…
Nosso passeio consistiu basicamente em uma volta a pé pela cidade, ao longo da Ross Road desde o pier até o Liberation Memorial, voltando pela John Street e descendo a Philomel Hill. Vimos os marcos turísticos principais e sobrevivemos a um vento cortante de congelar as orelhas – literalmente!
A primeira parada foi a Christ Church Cathedral:
Em seguida paramos para ver o Whalebone Arch – como diz o nome, é um arco feito da mandíbula de uma baleia…
Nosso passeio nos levou ainda um pouco mais adiante:
Depois de uma manhã na cidade, decidimos voltar ao navio a tempo de almoçar e curtir um pouco de conforto climático – porque o vento nas ilhas, sinceramente, me pareceu mais adequado a ingleses e argentinos… Quando partimos, ainda vimos belíssimas paisagens de outras partes das ilhas, menos urbanas:
Ouvi lá uma história que me aguçou muito a curiosidade … Ao longo da guerra, os argentinos minaram várias praias, que depois foram transformadas em reservas de pingüins. Explico: o peso de um homem detona uma mina, mas o peso de um pingüim não! Assim, os pingüins vivem em paz, protegidos pelas minas plantadas pelo próprio ser humano, sem que este possa interferir…
Vimos esse pôr-do-sol maravilhoso quando já tínhamos tomado o nosso rumo de volta à costa argentina. Nossa “missão” era chegar ao Cabo Horn em apenas 24 horas… 😉
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